PORTAS PARA AMPLIAR A PERCEPÇÃO, A CONSCIÊNCIA E A EVOLUÇÃO
Enteógeno (ou enteogénico) designa o estado de transe xamânico envolvido na ingestão de substâncias que alteram a consciência. Difere do conceito de droga, que se relaciona a substâncias tóxicas, que possam alterar a consciência, mas não possuem caráter intrínseco enteogênico, ou medicamentos, que buscam o tratamento medicinal de condições patológicas, estas últimas em geral não associadas com o propósito de alterar o estado de consciência, embora incidentalmente possa ocorrer, como reações adversas, geralmente não desejadas, mas associadas ao consumo de certos remédios (como se encontram descritos nas reações adversas das bulas).
O termo enteógeno vem do inglês entheogen ou entheogenic, deriva de uma palavra grega, com raiz em entusiasmo, significando "manifestação interior do divino".
Embora haja textos fazendo referência à terminologia “enteógeno”, empregada para o uso de substâncias ou plantas de poder, como conhecidas nos círculos xamânicos, como sendo uma suavização para a ingestão de “drogas”, a bem da verdade, o emprego de uma palavra específica para designar os estados alterados de consciência de natureza xamânicos veio corrigir uma falha na linguagem nesse aspecto. Em primeiro lugar, porque a linguagem traduz a percepção da realidade que nos cerca, de modo que o emprego de palavras de espectro tão amplos, como “drogas” para designar vários objetos e situações da percepção humana, além de inadequado, incorre em distorções tanto de sua percepção, quanto da manifestação da realidade percebida. Explico. O termo drogas passou a designar tanto substâncias que intoxicam o organismo e fazem mal à saúde e à percepção das pessoas e alimentam segmentos criminosos da sociedade, ligados ao tráfico e outros crimes, como a cocaína, como designam substâncias medicamentosas, que compramos na “drogaria”, que são perfeitamente legais, e substâncias que alteram a consciência com finalidades xamânicas, de alcançar transes profundos de consciência e contatos com outras realidades e com o divino. Todas essas designações partindo de um único termo, droga, causam confusão para as pessoas em suas interações e limitam a percepção e compreensão do espectro do objeto em discussão. Além disso, a linguagem é importante componente não só da EXPRESSÃO de nossa percepção da realidade, posto que traduzimos através da linguagem nossa percepção de tudo o que nos rodeia, como participamos ativamente da criação e co-criação da realidade que nos rodeia a partir da percepção da realidade que nos rodeia. Logo, ao limitarmos ou confundirmos a linguagem nesse processo, nosso processo de criação e co-criação, automaticamente, também fica limitado e começamos a afetar negativamente, ou deixar de criar mas ampliadamente a realidade que nos cerca.
Terence Mckenna, falecido antropólogo e estudioso de substâncias psicoativas falava muito acerca da importância e limitação da linguagem nesses processos da percepção e expressão da consciência.
Enteógenos, portanto, é um termo não só adequado para designar os estados alterados de consciência alcançados através do consumo de substâncias psicoativas, geralmente designadas como plantas de poder no âmbito xamânico, como permite uma clara expressão e compreensão de sua designação e propicia ao interlocutor e ao ouvinte distingui-los das “drogas”, que possuem natureza, propriedades e finalidades bem diversas.
O uso de plantas de poder, ou fungos, ou outras substâncias extraídas de algum elemento da natureza com finalidades enteógenas acompanha o ser humano há milênios. Comumente encontrado em rituais de culturas indígenas ou outras culturas aborígenes, que preservam tais conhecimentos, passados geralmente através de tradição oral, há milênios, como formas de alcançar o contato com o mundo espiritual, com outras dimensões, buscar conhecimento, cura, aconselhamento, força e poder. O xamã ocupa uma figura central nesses rituais, como o intermediário entre tais planos e os demais componentes de suas comunidades, portador de qualidades que lhes permitem fazer essa interação com o plano sutil, através da ingestão de enteógenos, por vezes todos na comunidade também participam dos rituais e ingerem os enteógenos.
Atualmente, os enteógenos mais conhecidos são a Ayahuasca, a Amanita, a Jurema, a Canabis, o Peyote e o San Pedro, mas há vários outros. O Peyote e a Datura ficaram muito conhecidos através dos livros escritos por Carlos Castañeda. A Ayahuasca tem origens em tradições milenares dos antigos Incas, e seu consumo ficou preservado em tradições indígenas da América do Sul.
Aconselhamos a qualquer um que se interessar pelo consumo de enteógenos que busquem fazê-lo junto a um Xamã ou Mestre habilitado nesse nível a ministrar as ervas de poder e conduzir com maestria o ritual necessário para que se obtenha uma experiência de contato com outros níveis de consciência e outros planos de percepção em segurança. Ou, em palavras simples, como é corrente nas conversas populares, para que se tenha uma “boa viagem”. O uso de enteógenos fora de contextos ritualísticos adequados e fora da condução de um xamã ou mestre pode ser inclusive, perigoso trazendo experiências que possam ser classificadas, no mínimo, como desagradáveis, uma “má viagem”, como é dito popularmente, como poderá afetar temporária ou até permanentemente o estado de percepção da pessoa. Partindo destas premissas é que os transes de natureza xamânicas são correntemente conhecidos como sendo para “guerreiros”. O caminho do guerreiro, muito explorado na literatura de Carlos Castañeda, é também traçado em várias outras culturas e não inclui, necessariamente, o uso de plantas de poder. Todavia, aos que delas buscam o contato com o divino, devem ter em mente a postura adotada pelo caminho do Guerreiro, que respeita a planta/erva que vem lhe proporcionar uma experiência transcendental, e todos os seres a ela ligados e ao xamã, todos envolvidos no processo de contato com a divindade interior. E o Guerreiro tem não somente a postura de respeito e coração aberto, como também a coragem necessária para fazê-lo, pois, acreditem, os transes xamânicos são geralmente bem fortes e intensos, mais próximos da terapia intensiva do que doses homeopáticas.
Então, como uma expressão de sinceridade é que digo que, se você é uma pessoa que busca coisas leves e agradáveis, a experiência xamãnica pode assustá-lo… ou não, depende de você, não existem regras. Mas ao optar por uma experiência xamânica, faça-o com a postura do Guerreiro: com respeito, coração aberto e coragem para ir além de sua mente racional e sua percepção ordinária do dia a dia e extrair o melhor que a planta de poder lhe proporcionar no contato com sua divindade interior e com a percepção de outras realidades. O ritual xamânico com o uso de enteógenos pode lhe proporcionais muitas coisas, desde conhecimento e percepções de outras realidades até a cura mais profunda que você possa estar buscando.
M. Iara De Lorenzo
Irmandade Polimata